A Reforma Tributária e o Novo Papel do CEO no Brasil
- Jeff Rossi

- há 3 dias
- 4 min de leitura

Ainda que o Brasil esteja acostumado a conviver com complexidade tributária, o momento que vivemos agora é único. Não se trata apenas de uma mudança na forma de arrecadar: trata-se da maior transformação estrutural do sistema tributário desde a Constituição. E, nesta travessia, o CEO deixa de ser apenas um gestor estratégico para assumir o papel de guardião da perenidade e da governança empresarial diante de um novo modelo de tributação que afetará absolutamente tudo: margens, precificação, competitividade, processos, pessoas e, principalmente, a tomada de decisão.
Como alguém que vive o tributário brasileiro há mais de uma década, caminhando lado a lado com empresários de diversos setores, aprendi que as maiores ameaças geralmente nascem onde o CEO não está olhando. Por este motivo, escrevo este artigo para você, que conduz grandes decisões, influencia mercados e carrega a responsabilidade de manter o ecossistema econômico saudável, com o objetivo de trazer clareza, foco e direcionamento.
O que realmente deve preocupar um CEO com a reforma tributária? E o que deveria entrar imediatamente na pauta do conselho deliberativo das empresas? Abaixo, apresento reflexões práticas e diretas, fruto da minha vivência no campo dos negócios e da vida, e não apenas na teoria.
1. O CEO precisa assumir o protagonismo, e rápido
A reforma tributária não é um tema “do fiscal”, “da contabilidade” ou “do jurídico”. É um tema estratégico, que mexe com o modelo de negócios. CEOs que enxergarem isso cedo terão vantagem competitiva, os que demorarem, perderão terreno rapidamente.
Três preocupações imediatas:
• Impacto no fluxo de caixa, com a transição para CBS/IBS;
• Revisão da estratégia de preços, especialmente em setores com margens apertadas;
• Reconfiguração da cadeia de valor e fornecedores, que pode gerar impacto real no custo final. Se o CEO não estiver pessoalmente liderando essa agenda, ele estará terceirizando a estratégia mais sensível da empresa nos próximos anos.
2. A conta não fecha igual, e quem achar que é só "trocar imposto" vai pagar caro
A simplificação é bem-vinda, mas não se iluda: a composição tributária muda profundamente.
Uma empresa pode, sim, pagar menos. Outra, do mesmo setor, pode pagar muito mais, dependendo da sua estrutura, operações, benefícios, logística, margem e regime atual.
A maior ameaça não é a reforma. A maior ameaça é a falta de simulação para encontrar o caminho ideal para o seu negócio. Todo CEO deveria exigir, imediatamente:
• Simulações comparativas entre os modelos atual e futuro;
• Cenários pessimistas, realistas e otimistas;
• Mapeamento de riscos por produto, região e operação.
Mais do que perguntar: “Quanto vou pagar?” o CEO precisa perguntar: “Como isso muda meu negócio?”
3. A competitividade entre empresas vai se acirrar como nunca
A reforma cria um ambiente mais transparente. Ótimo, mas isso também significa que:
• Empresas que se prepararem antes terão melhor precificação;
• Cadeias eficientes serão recompensadas;
• Benefícios mal utilizados serão expostos.
A diferença entre sobreviver e crescer será definida pelo grau de maturidade tributária e de governança das empresas. Não se trata só de pagar impostos. Trata-se de competitividade.4. O Conselho Deliberativo precisa entrar no jogo, agora. A reforma precisa estar na pauta obrigatória do conselho, com uma abordagem estratégica e contínua.
Alguns pontos que recomendo incluir de imediato:
1. Comitê de acompanhamento da reforma
• Multidisciplinar (tributário, financeiro, jurídico, operações, pricing);
• Relatórios mensais para o conselho.
2. Plano de transição 2025–2033
• Definir metas por fase de implantação;
• Garantir estrutura de compliance fiscal robusta.
3. Política de preços e margens
• Ajustes previstos conforme impacto do IBS/CBS;
• Estratégia para preservar margem sem perder competitividade.
4. Auditoria tributária preventiva
• Mitigar riscos antes que os impactos apareçam;
• Revisar créditos, operações interestaduais e cadeia de suprimentos.
5. Estratégia de comunicação com stakeholders
• Fornecedores;
• Clientes;
• Investidores;
• Colaboradores.
Os CEOs que organizarem esse processo dentro do conselho estarão dois ou três anos à frente do mercado.
4. O CEO precisa estar preparado para tomar decisões difíceis
A reforma tributária pode obrigar ajustes importantes, como:
• Reestruturação de filiais;
• Revisão profunda de contratos;
• Mudança de estratégias de distribuição;
• Negociação mais dura com fornecedores;
• Redesenho do pricing.
Essas decisões exigem coragem e precisão, e isso só é possível com profundidade de análise e alinhamento estratégico.
5. O futuro pertence aos CEOs que tratam tributação como vantagem competitiva
Durante anos, o sistema tributário brasileiro foi um peso. A reforma, apesar dos desafios, abre uma janela histórica para as empresas que enxergarem o óbvio: tributação é estratégia corporativa.
E estratégia é papel direto do CEO. Empresas que saírem na frente terão vantagem real em margens, expansão, atração de investimentos e posicionamento de mercado. A pergunta é: Você vai reagir à reforma ou vai liderar sua empresa através dela?
7. Dados e gráficos que todo CEO precisa ver agora

Varejo alimentício: +1,2% a +3,8%;
• Indústria: –0,7% a +2,1%;
• Serviços de alto valor agregado: +5% a +8%;
• Logística e transporte: –1,1% a +1,9%.
Setores com alta folha e baixo crédito tendem a sentir mais impacto. Setores industriais e logísticos podem ganhar eficiência dependendo do modelo operacional.

• 2026–2029: tendência de aumento na carga durante a transição;
• 2030–2033: estabilização e redução gradual conforme créditos se ajustam.
CEOs precisam acompanhar mensalmente os ciclos de crédito da CBS/IBS para evitar estrangulamento de capital.

• 2025: simulações, revisão de margens, ajustes contratuais;
• 2026: início da CBS, preparar compliance e pricing;
• 2027–2029: transição crítica, maior risco de perda de margem;
• 2030 em diante: consolidação, oportunidades competitivas.
A vantagem competitiva será conquistada entre 2025 e 2029. Depois disso, o mercado apenas reagirá.
Conclusão: este é o momento de liderança e de assumir o protagonismo, não de esperar
A reforma tributária não é um tema apenas técnico, é um tema de liderança.
Daqui a alguns anos, ficará claro quais CEOs entenderam a magnitude dessa mudança e se prepararam, e quais deixaram “o fiscal cuidar disso”. Os primeiros serão protagonistas, os demais serão espectadores.
Se este artigo fez sentido para você, compartilhe com outros líderes, conselheiros e empresários que precisam estar à frente dessa transformação. A força do nosso ecossistema depende da maturidade de cada um de nós.
E, se você quiser trocar ideias, aprofundar análises ou discutir cenários para o seu setor, estou totalmente à disposição.
Jeff Rossi
Embaixador do CEO's Club Florianópolis
CEO da IMPACTE BRASIL






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